sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Show de Cindy Lauper, por Sarah Branco!

Fui uma criança, uma adolescente e hoje sou uma mulher Cindy Lauper. Ganhei a “fita cassete” da Cindy quando já era madura na profissão da diversão, aos nove anos de risadas. Porque gosto tanto dela? Talvez porque ela represente a vontade que sempre tive de sair cantando e rindo quando todos estão sérios e concentrados. Ao longo de todo este tempo, ela sempre me lembrou que a palavra da ordem nesta vida louca, de trabalhar com a alma arrastando nos sonhos, de contas e de amores perdidos, de dúvidas e incertezas é que " Girls just want to have fun!".
Como uma fiel simpatizante da alegria, cheguei o mais cedo que pude, acompanhada apenas pela minha companhia, na casa de show e fui logo garantir a minha gelada. Por todos os lados pessoas das mais variadas formas, cores e tamanhos circulavam e se posicionavam. Minha atenção foi seduzida pelo visual das pessoas, roupas extravagantes, muito brilho, muito batom, perfumes, pulseiras de plástico e perucas gigantes, meia arrastão, couro e salto alto. Cheguei a pensar, em determinado momento, que um fenômeno coletivo havia ocorrido. As pessoas tiraram de seus baús e gavetas esquecidas todas as suas fantasias rebeldes, um breve momento de liberdade, nestes tempos de ditadura fashion, em que foi possível sair de casa do jeito mais autêntico possível amparado pela causa Cindy Lauper. Sem falar nos travestis que fizeram seu show à parte e as vinte toneladas de homossexuais carinhosos, que encheram o ambiente com uma energia fraternal.
Usei de minha baixa estatura para me infiltrar na multidão e chegar o mais próximo do palco, rezando para o efeito da cerveja não começar. A cada momento, o meu entorno ficava mais apertado, o ar rareava e a ansiedade aumentava gradativamente. As luzes foram cedendo àquele torpor com cheiro de suor, luzes coloridas e muita névoa. A nossa diva invadiu o palco um pouco tímida, com a cabeleira branca, fios curtos de um lado da cabeça e longos do outro, deixando a mostra sua contravenção e rebeldia. Desse momento em diante, aquele ser quase cintilante que hipnotizou a todos com sua voz infantil, simpática e falante, levou-nos a uma espécie de êxtase geral, todas as mãos para o alto, todas as vozes e toda a diversão explodiu. Money Changes Everything, The Goonies, Good Enough, Thru Colors, Grab a Hold, Rockin Chair, Echo, Time after Time, Bring ya to the brink, fizeram nossa diversão. Lembrei de meus amores infantis e outros nem tanto, lembrei de minhas performances de cantorias nos palcos marginais e orientais, da minha vida e de quanto gosto dela. Quando senti meu coração na garganta e acreditei que ia desmaiar e realizar a minha fantasia de ser carregada por centenas de mãos anônimas até um lugar seguro, eis que Cindy nos trouxe I Drove all Night interpretado da forma mais intensa e bonita que já ouvi.
Este foi, sem dúvida, o show mais animado que já assisti, uma lembrança que vai ficar. Cindy prometeu nova visita, espero que sim Cindy!

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